Naquele momento senti que estava chegando ao final de uma etapa. Algo parecido com um sonho, com lapsos de pesadelos, tinham me levado até aquela barreira invisível, ainda sim, de complexa ultrapassagem. Foram algumas semanas, meses, talvez, que passaram como se tivesse apertado o saudoso botão "F-FWD" dos antigos toca-fitas. Quando acordei, estava diante de algumas decisões por tomar, coisas que se complicaram demais, e eu tinha que solucionar. Tudo, e sozinho, do jeito que eu gosto, diga-se de passagem. Esta predileção se intensificou, aliás, pelo tempo em hibernação mental, quando meu corpo inerte precisou da ajuda de outrem para se mover, e não chegar em situação tão dramática no instante da retomada. Agradeço a estes, mas as coisas nunca deveriam ter sido assim, nem chegado neste ponto.
Conheço gente que defenda que nossos sonhos são 'dejà-vús', nada mais nada menos que uma prévia do que nos espera no futuro, seja ele breve ou distante. Para mim, pareceu que fui vivendo o tal dejà-vú, com os olhos entreabertos, indeciso entre a ação inconsciente, ou a passividade consciente e cansada. Não serei totalitarista, pelo menos não com as ideias sobre mim mesmo, e considerarei que relaxei conscientemente, quase chegando a por tudo (o que estava em jogo em determinado momento) a perder. Outras coisas fui levando no puro instinto, e funcionaram, se não perfeitamente bem, de maneira satisfatória, tanto é que a tranquilidade que tenho hoje credito a essa capacidade de agir automaticamente, por vezes.
Em uma reta final de trajetória, normalmente paramos para pensar no que deixamos para trás, no que estamos levando conosco, e no que podemos conquistar. Particularmente, é difícil para mim fazer uma reflexão a tal nível, uma vez que a noção que tenho a respeito das mencionadas situações é muito rasa. Ouvi hoje, da minha mãe: "tem coisas que tu só vai dar valor, realmente, no momento em que tu as perder". Como não sei o que perdi neste 2010, deixei de dar valor a tudo, principalmente no 'sprint' final, quando joguei tudo para cima, e segurei o que caiu primeiro. Tiveram coisas que se estatelaram, mas sem se espatifar, enfim, sempre achei que poderia segurar tudo, quase que acabo não pegando nada. E se não tivesse pego nada, pode ser que eu estivesse escrevendo o mesmo texto, com o mesmo sentimento: de incertezas.
Como a virada do ano para mim só representará a mudança de calendário, uma vez que tudo seguirá na mesma, pela primeira vez em 20 anos começo um novo calendário sem saber como terminará a primeira semana. As vezes desejo ter o controle daquele filme, o "Click", com o Adam Sandler, onde ele aperta uma tecla, e ganha o supracitado "F-FWD" em algumas situações de sua vida. Poder eliminar tudo que é rotineiro e desgastante seria um bom começo; mas acho que melhor que isto, é começar este 2011 adquirindo a capacidade de aprender. Mais importante que o aprendizado técnico, que está longe de ser minha referência por aqui, é o aprendizado pessoal que vamos levar para a vida toda, e penso que seja o combustível para as outras coisas onde estamos envolvidos como seres humanos.
Enfim, e por fim, não prometo nada, e não traço objetivos para 2011. Isto é material para ilusão e decepção posterior. A ideia é: viver a vida a cada dia, como se cada um deles fosse uma final de campeonato. O tal do planejamento a médio prazo será deixado de lado, pelo menos no gás inicial. Já que o balde vem quicando, chutarei-o, de preferência para o mais alto possível. Se ele cair, talvez eu já consiga catar mais de uma coisa no ar ao mesmo tempo. E se eu deixar ele quebrar, talvez eu o valorize um pouco. Feliz 2011!